Faroeste virtual – Jornal de Brasília

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O termo inglês “Far West”, que significa extremo oeste, oeste distante, virou a palavra Faroeste, em português. E Faroeste, ou Western, virou um gênero cinematográfico, produto de Hollywood, e um dos estilos mais poderosos do cinema americano – para muitos críticos, trata-se do “cinema americano por excelência”. Estilo que povoou nossa infância, nossas vidas, com milhares de filmes e séries, na televisão e no cinema, estrelados por John Wayne, Clint Eastwood, Burt Lancaster, Henry Fonda e os italianos do Western Spaghetti: Giulianno Gemma, Terence Hill e muitos e muitos outros. Esses eram quase sempre os “Mocinhos”, um herói que fazia justiça, dando um final feliz a trama.

Os filmes de faroeste contam a vida e a epopeia do povo americano em sua marcha para o oeste bravio no século XIX, em busca de novas terras para viver. Uma terra inóspita, selvagem, violenta povoada por indígenas e animais ferozes. O povoamento fora incentivado pelo governo federal, que doara uma quantidade de acres de terra para os novos colonos. O processo de colonização foi violento, brutal, pois a chegada dos brancos mexia com os indígenas, que não aceitavam a ocupação. As ferrovias estavam nascendo e rasgaram o país de norte a sul, leste a oeste. Foram construídas fazendas, pequenos povoados e cidades. E com as cidades, surgiram os vilões, criminosos, assaltantes, bandidos armados com rifles e revólveres Colt – que assaltavam diligências, trens, casas, bancos, bares. Os duelos eram comuns, roubava-se e matava-se à vontade. Muita gente andava armada. Mesmo assim, atirar pelas costas era considerado um crime bárbaro, covarde e os perpetradores eram linchados e, se julgados, eram enforcados em árvores, em praça pública, na presença de multidão que aplaudia, como se fosse um espetáculo. Era o mundo de Wild Bill Hickok, Billy The Kid, Jesse James, Pat Garret, etc.

Trago de volta a violenta história do velho oeste americano porque ela está se repetindo. “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa” disse Karl Marx. Digo que estamos vivendo a era dos ‘pistoleiros virtuais’, ou ‘pistoleiros digitais’, dos homicidas que perpetram assassinatos “na nuvem”: o assassinato de reputações, por intermédio da mentira e da calúnia, das “Fake News”, algo que sempre ocorreu na humanidade, mas não com a força e a quantidade de hoje. Se antes tirava-se a vida, feria-se e matava-se com facas e revólveres, agora se mata a reputação das pessoas pelas costas, usando mouses e teclados, a milhares de quilômetros de distância. Se antes atacava-se na imprensa, Jornais, TV, Rádios, agora é nas Redes, nas plataformas digitais, ou sabe-se lá onde! Tanto que a imprensa tradicional está falida, “quebrada”. Ou seja, agride-se de forma anônima, sem que se possa identificar o criminoso, a forma mais covarde e repulsiva possível. Já que é dificílimo identificar os “assassinos”, ou hackers, como esses canalhas são conhecidos. E é engraçado que eles têm o mesmo comportamento dos pistoleiros do Velho Oeste americano: disputam violentamente quem é o melhor, o mais eficiente, da mesma forma que os pistoleiros do passado disputavam quem sacava mais rápido e tinha melhor pontaria. Outra coisa, tanto os pistoleiros digitais quanto os do velho oeste agiam por dinheiro: eram contratados e bem pagos, por um poderoso.

Vivemos a era da Inteligência artificial, do ChatGPT, da revolução digital, dos algoritmos, da tecnologia descontrolada, ou controlada por alguns milhares que detêm o conhecimento – e conhecimento é Poder! Esse “admirável (abominável) mundo novo”, fascinante, maravilhoso, deslumbrante e enriquecedor para poucos, é uma espécie de desgraça para um contingente enorme de pessoas e países. Assim, a humanidade enfrenta essa marcha tecnológica irrefreável aplaudida por todos, de revolução digital, mas que leva em seu bojo uma carga destrutiva terrível, semelhantes a outras que já enfrentamos no passado. O Brasil tem sido vítima disso e, portanto, necessita urgentemente de uma legislação específica para regulamentar essas plataformas. O Parlamento brasileiro precisa fazer isso logo, sob pena de omissão. Como no velho oeste, precisamos de leis e de um Xerife para prender os pistoleiros.

Shakespeare disse em Hamlet: “Que obra prima é o homem! Como é nobre pela razão! Como é infinito em faculdades, em forma e movimento, como é expressivo e maravilhoso! Nas ações, como se parece com um anjo! Paradigma dos animais! Mesmo assim, o homem não me deleita”. Pois é, pistoleiros virtuais não nos deleitam! Cadeia neles!



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