Dia da Mulher: Conheça a trajetória de Ana Beatriz Barra, nefrologista e diretora médica em uma multinacional

0
107


A médica relata nessa Semana da Mulher um pouco da sua história e os desafios enfrentados para chegar até sua atual posição de liderança

A nefrologista Ana Beatriz Barra é a diretora médica nacional da Fresenius Medical Care, multinacional alemã que possui 33 clínicas de diálise em diversos estados do Brasil no Sudeste e Nordeste, sendo responsável por mais de um milhão de tratamentos por ano. A empresa também presta serviços de diálise em mais de 200 hospitais no país. Ela está há doze anos na empresa, sendo quase três na função de diretora e o restante como gerente médica.

Como decidiu por sua profissão de médica? E, posteriormente, de nefrologista? Quais as principais influências?

Na verdade, tenho uma história bastante atípica de vocação. Até a metade do último ano do ensino médio, pensava em ser jornalista e estudava em classe de humanas. Nunca pensei em ser médica. No entanto, ainda não me sentia segura em relação à escolha e fiz um teste vocacional que foi taxativo: medicina. Depois de muitas conversas com o orientador educacional, entendi que seria a profissão que me faria feliz. E, em relação à nefrologia, não foi diferente. Nunca havia pensado na especialidade até o último ano de medicina. Fazia o internato em anestesia quando tive um desentendimento sério com um cirurgião, por conta de uma medicação tóxica para os rins. Eu queria reduzir a dose e ele me desautorizou no meio da cirurgia. Desisti da anestesia, onde eu não poderia protagonizar o tratamento dos meus pacientes, e fui experimentar a nefrologia, para entender melhor os rins. Me apaixonei. A nefrologia é uma especialidade muito intensa, em que o especialista faz uma enorme diferença. Me encontrei nessa área.

  • Quais características da sua personalidade mais a ajudaram no desenvolvimento da profissão?

Em muitas situações, nossos piores defeitos podem ser nossas maiores qualidades. Sou teimosa; muito. Mas, se eu olhar o lado cheio do copo, perseverança e resiliência combinam com uma certa teimosia. A doença renal crônica ainda é invisível para a população em geral. Uma doença assintomática, que abrevia a vida dos pacientes mais graves. Muitos acham que, nessas condições, não se pode viver sem transplante. A maior parte das pessoas considera a diálise um tratamento muito sofrido e não vê o milagre da tecnologia que é a possibilidade de se substituir um órgão vital. Meu desafio pessoal sempre foi tentar garantir que cada um dos pacientes tivesse o melhor tratamento possível, em cada momento de sua jornada de saúde. E sempre pensando em proporcionar a essas pessoas condições para que pudessem ter uma vida significativa, especialmente em diálise, que é o tratamento mais sacrificante dessa doença. É preciso muita teimosia para isso. Dá trabalho convencer os pacientes, as famílias, as equipes, os planos de saúde, os outros colegas, as autoridades, as agências reguladoras e, às vezes, até as corporações. Foi uma luta para conseguir colocar a hemodiafiltração online de alto volume no rol da ANS, e também para que os convênios aceitem que muitos pacientes precisam de mais do que três sessões de diálise por semana. E conscientizar a população para doação de órgãos, para realizar a monitorização da função renal e fazer exame de creatinina… são lutas diárias.

  • Considerando os desafios enfrentados por mulheres no mundo do trabalho, como avalia o fato de ter alcançado posições de liderança? Foi mais fácil ou mais difícil do que imaginava?

Nesse contexto, não é difícil imaginar que a vida tenha me empurrado para cargos de liderança. Gosto muito de trabalhar em equipe e conseguir que o time siga na mesma direção, despertando este mesmo olhar, de fazer sempre o melhor de cada um e para cada paciente. Apesar de ter que tomar decisões difíceis todos os dias, cada conquista do nosso time nos renova. São pílulas de ânimo que te lembram porque você deve acordar toda manhã para trabalhar com alegria. E também sou autenticamente otimista. Acho que isso facilita minha vida e contamina as pessoas que lidero.

  • Acha que ainda existe muita diferença no mercado de saúde entre homens e mulheres?

Sim. Ainda há muito machismo nas instituições em geral, embora um pouco menos na medicina, entre os colegas. Por isso, no cargo de executiva, tive um choque de realidade. Embora, no momento, há um cenário mais favorável a mudanças, o machismo estrutural ainda contamina o inconsciente coletivo com muita força. É preciso um esforço atento e diário para não cairmos em armadilhas de outras pessoas e, especialmente, nas nossas mesmas. Para superar o estigma de sexo frágil, querermos ser supermulheres. Mas essa forma que inventamos para poder começar a desbravar o mundo do trabalho não é sustentável. Temos que dividir tarefas igualmente em todos os âmbitos da vida, em casa, no trabalho… Mas também estou otimista quanto a isso. Penso que as novas gerações estão um pouco mais evoluídas. Meus filhos, por exemplo, veem seu lugar no mundo com muito mais compromisso com a equidade.


CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE



Source link

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here