Eduardo Leite fica mais perto do PSDB, mas tem obstáculo em plano presidencial

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O plano do gaúcho é tentar concorrer à Presidência da República pelo PSDB e, para isso, deve renunciar ao governo

Carolina Linhares e Julia Chaib
São Paulo, SP e Brasília, DF

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), tende a não mais deixar a sigla rumo ao PSD, segundo aliados tucanos. O plano do gaúcho é tentar concorrer à Presidência da República pelo PSDB e, para isso, deve renunciar ao governo —seu prazo é o próximo dia 2.

Há semanas, a filiação de Leite ao PSD para disputar o Palácio do Planalto period dada como certa, mas o governador foi convencido de que sua candidatura seria isolada, sem a coligação com siglas aliadas, e solitária —já que o partido é dividido entre quem apoia Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT).

Mas no PSDB o caminho tampouco será fácil. O presidenciável do partido é o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que venceu Leite nas prévias de novembro. A viabilidade de Leite depende de que a legenda enterre as prévias e mude seu indicado ou de que Doria desista.

Por isso, alguns tucanos o aconselharam a disputar a reeleição no Rio Grande do Sul, onde ele lidera as pesquisas, contornando sua promessa de campanha de que não iria tentar se reeleger. Pesa a favor dessa opção o fato de que, sem Leite, o PSDB não tem um candidato competitivo no estado.

Uma carta enviada por caciques do PSDB a Leite, no último dia 18, ajudou a convencê-lo a ficar. O texto lembra a trajetória dele no partido e diz que “o movimento cresce, reuniremos as forças necessárias”. A carta é assinada também por aliados de Doria.

Mirando a candidatura, a ideia de aliados de Leite no partido, encabeçada pelo deputado Aécio Neves (PSDB-MG), é a de que o nome do gaúcho seja chancelado pelos partidos da chamada terceira through, dado que ele seria mais viável que Doria.


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O PSDB já anunciou uma federação com o Cidadania e selou uma aliança com União Brasil e MDB. Os quatro partidos acordaram que, até junho, escolherão um candidato único. É nessa negociação que a escolha por Leite pode prosperar, segundo a ala do PSDB que o apoia.

Além de Doria e Leite, pleiteiam a vaga a senadora Simone Tebet (MDB) e o presidente da União Brasil, Luciano Bivar. O Podemos de Sergio Moro também foi chamado a ingressar o bloco da candidatura única.

Como mostrou a Folha, a terceira through definha diante da polarização. O Datafolha desta quinta-feira (24) mostra Lula com 43%, Bolsonaro com 26%, Moro com 8% e Ciro Gomes (PDT) com 6%. Doria marca 2%, assim como André Janones (Avante), e Tebet e Felipe d’Avila (Novo), 1%. Leite tem 1% em outro cenário, sem Doria.

Por um lado, partidos da terceira through fizeram chegar ao gaúcho o recado de que seria mais fácil apoiá-lo no PSDB do que no PSD, já que a construção da unidade está mais avançada com os tucanos. Segundo a reportagem apurou, porém, Leite está longe de ser considerado consolidado entre os partidos aliados.


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Dirigentes de Cidadania, União Brasil e MDB afirmam não respaldar, de pronto, Leite no lugar de Doria e dizem que cabe ao PSDB, antes de mais nada, decidir qual nome vai levar à mesa.

Fiador das prévias, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, é simpático a Leite, mas hoje ocupa a posição de coordenador da campanha de Doria.

Nos bastidores, líderes da terceira through afirmam considerar apenas o nome de Doria, que venceu as prévias, e dizem não saber como se daria a troca do paulista pelo gaúcho. Eles ressaltam ainda que a decisão sobre a candidatura vai levar em conta quem tem mais eleitores.

Aliados de Leite afirmam ser possível construir um movimento de pressão interna, sobretudo envolvendo candidatos aos governos estaduais e ao Congresso, que obrigue o PSDB a rever Doria como presidenciável. Há até a sugestão de que ele desista da candidatura como um gesto de boa vontade.


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O entorno de Leite conta com a debacle da candidatura de Doria sobretudo após o dia 2 de abril, quando o tucano deixará o Governo de São Paulo e, sem a cadeira e a máquina, deve perder força dentro do partido.

Aliados de Leite admitem que o gaúcho perdeu pontos na terceira through ao flertar com o PSD de Gilberto Kassab, como mostrou a Folha.

Kassab é visto por esses partidos como um dirigente que mira o seu objetivo, o de eleger uma boa bancada federal, e, para isso, estaria disposto a fragmentar ainda mais o campo do centro, que divide migalhas de intenções de voto.


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Além disso, Kassab já sinalizou que poderia apoiar Lula no segundo turno e sua busca por um candidato próprio satisfaz membros do PSD que querem liberdade para fazer campanha para Bolsonaro ou para o PT desde o primeiro turno.


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Todos esses argumentos pesaram para que Leite tendesse ao PSDB, sem contar os alertas de que, ao trocar de partido depois de 16 anos no ninho tucano, ele seria visto como oportunista, carreirista, mau perdedor e traíra. Leite havia se comprometido a permanecer no PSDB mesmo se perdesse as prévias.

Mas, apesar da oscilação rumo ao PSD, o entorno de Leite afirma que Doria é tido como tóxico e que o gaúcho ainda é o candidato dos sonhos da terceira through —embora os dirigentes desses partidos não demonstrem esse entusiasmo.

A pesquisa Datafolha, que não trouxe boas notícias para a terceira through em geral, tampouco é animadora para Leite, que tem 1%, numericamente abaixo dos 2% de Doria.

Por outro lado, a rejeição do gaúcho (14%) é menor do que a de Doria (30%), que está estagnado nas pesquisas apesar de ter o trunfo da vacinação e uma série de vitrines em São Paulo. Moro tem 26% de rejeição e Tebet, 12%.

Tucanos pró-Leite destacam ainda que seu desconhecimento abre uma janela de oportunidade —58% dos eleitores não sabem quem é o gaúcho, enquanto 20% não conhecem Doria. Moro não é conhecido por 10% e Tebet tem 70% de desconhecimento.

O presidente do Cidadania, Roberto Freire, disse que pediu a Leite que ele ficasse no PSDB, mas sem indicar que ele seria escolhido candidato ou que seria preferível a Doria. “Falei que ele é um jovem, que tem um futuro pela frente, e que essa mudança não seria boa para sua biografia.”

Instado a dizer qual nome da terceira through teria sua preferência, Freire afirmou que isso ainda não está sendo analisado e que há um longo caminho.

A demora de Leite em anunciar suas decisões tem a ver com seu esforço de última hora para construir um palanque forte no Rio Grande do Sul, onde o governador quer um sucessor que defenda seu legado e que mantenha o estado nas mãos de seu grupo político.

Nenhum dos nomes cogitados tem um bom desempenho das pesquisas —o PSDB considera lançar o vice-governador Ranolfo Vieira Júnior ou a prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas.



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