‘Rush!’, novo disco de Maneskin, vende uma dissidência controlada

0
71


O grupo ganhou os ouvidos do globo depois de sair vencedor do concurso musical Eurovision de 2021

Diogo Bachega
São Paulo – SP

A banda italiana Maneskin lança seu terceiro álbum, “Rush!”, nesta sexta-feira (20), seu primeiro álbum desde que alcançou o pódio internacional. Conhecidos por desafiar o conceito de gênero e o pudor sexual, os músicos do Maneskin até dialogam com isso no novo disco, mas a aposta parece um pasquim do álbum que a banda poderia entregar.

Esteticamente, a banda desafia costumes dos ambientes em que transita. O cantor Damiano David entoou “Supermodel” vestindo um fio dental que expunha suas nádegas ao mundo nos palcos do VMA, o Video Music Awards da MTV, em agosto do ano passado.

Victoria de Angelis, a guitarrista, tem aparecido nos palcos e nas redes sociais com os seios quase à mostra. Apesar de nudez não ser novidade na cultura pop, há algo de desafiador na forma como os integrantes da banda a oferecem, com um forte teor andrógino e queer.

O grupo ganhou os ouvidos do globo depois de sair vencedor do concurso musical Eurovision de 2021. Os integrantes formaram a banda quando ainda estavam na escola e começaram a chamar a atenção em 2017, quando participaram do The X Factor italiano e lançaram o EP “Chosen”. Entre os covers gravados estava “Beggin’”, originalmente de 1967, que reviveu a música e ainda é uma das faixas mais ouvidas da banda.

Em 2018, quando lançou seu primeiro disco, “Il Ballo della Vita”, o grupo já tinha ganhado visibilidade na Europa e aberto um show da banda Imagine Dragons em Milão. Depois do álbum, em que predominava o italiano, Maneskin fez sua primeira turnê pela Europa.

“Teatro d’Ira”, segundo disco da banda lançado em 2021, também dava preferência à língua românica e trouxe várias das faixas mais conhecidas da banda. “I Wanna Be Your Slave” e “Zitti e Buoni” estiveram entre as músicas mais ouvidas da época e marcaram a dualidade de idioma da banda.


CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A banda ganhou mais e mais destaque nas paradas musicais e foi impulsionada pelas redes sociais, especialmente pelo TikTok, em que trechos das músicas deram origem a séries de vídeos virais.

Enquanto as aparições da banda têm sido cada vez mais provocativas, o que o Maneskin entregou em “Rush!” deixa a desejar. Nas 17 faixas a banda flerta com sonoridades diferentes, por vezes trazendo coisas novas, por vezes soando redundante. Em vez de mostrar que a banda veio para trazer um rock contundente e desafiador, o disco cai num discurso confortável.

Não é que o álbum não entretenha. Ele é divertido, interessante e cheio de faixas com potencial chiclete. Mas música -e especialmente rock e punk-, além de entretenimento, também é política, e “Rush!” parece dissidência controlada, puxando as barreiras da sociedade, mas nunca até a ruptura.

Faixas mais combativas, como “Gossip”, que ataca o delírio do sonho americano, e “Gasoline”, sobre a Guerra da Ucrânia, não falam mais do que o senso comum, ao menos do que o público mais jovem e liberal já prega. Musicalmente, várias faixas brincam com sonoridades inéditas para a banda, mas saturadas em outros pops à la rock mainstream.


CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

As duas apostas punks do álbum estão entre as faixas mais curiosas, mas não entregam o mesmo resultado. “Bla Bla Bla” soa jocosa, mas não alcança seu potencial. Já “Kool Kids”, simples como é, entrega o que faltou na anterior.

O álbum tem apenas três faixas em italiano, em um aceno à audiência global. Apesar de ser agradável poder entender e cantar as faixas com mais facilidade, as consoantes latinas fazem falta. Traziam uma dramaticidade que casava perfeitamente com o rock e que diferenciava a banda de tantas outras do gênero.

“La Fine”, uma das músicas lançadas antes do disco, se presta a refletir sobre a vida pós-fama dos membros da banda, que ganharam o mundo quando mal tinham se acostumado a ter 20 anos. “Mark Chapman”, que leva o nome do assassino de John Lennon, e “Il Dono della Vita” também são boas e ajudam a matar a saudade dos dois álbuns anteriores.

O aspecto sedutor fica por conta de “Mamammia”, que sucedeu “I Wanna Be Your Slave” como rock erótico e provocativo. Mesmo feita para ser hit, não soa genérica -e imprime a megalomania sadomasoquista que Damiano David ostenta no Instagram e nos palcos, mas que faz falta nas faixas.


CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

“Supermodel” puxa um som mais festivo para contar sobre uma modelo em decadência que se alimenta de cocaína, corações partidos e rock and roll. A letra lembra “Killer Queen”, apesar de bem mais óbvia.

As faixas “para baixo” do álbum variam em qualidade, mas cativam. “Timezone” fala sobre estar longe de quem ama e não é especialmente marcante, mas deve servir para compor playlists tristes daqui para frente. O mesmo pode ser dito de “If Not for You”, uma balada melosa.

Encerrando o álbum, Damiano David abusa da garganta para compor o drama de “The Loneliest”, melhor das faixas tristes e que só pode ter sido feita para acompanhar quartas-feiras ou domingos chuvosos. “Você vai ser a minha parte mais triste, a parte que nunca será minha”, canta. “Essa noite vai ser a mais solitária de todas” -e o fim do álbum ressoa o luto de todos que já não têm quem amam ao seu lado.


CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

RUSH!
Onde Nas plataformas digitais
Gravadora SME
Artista MåneskinLançamento 20/01


CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE



Source link

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here