Taiwan se prepara para eleições de 2024 sob fogo cruzado entre EUA e China

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A ilha é foco crescente da disputa, inclusive armamentista, entre as duas maiores economias do mundo

A dez meses da eleição presidencial, a campanha em Taiwan já vem determinando os movimentos do governo e da oposição quanto aos seus laços com Estados Unidos e China.

Nesta semana, a presidente Tsai Ing-wen convenceu o novo líder da Câmara dos EUA, Kevin McCarthy, a não visitá-la em Taipé como ele havia anunciado, marcando um encontro na Califórnia em vez disso. O ato é só uma das demonstrações de moderação na política externa por parte do atual governo, a mais recente foi a liberação generalizada de voos para a China continental.

A eleição local em novembro passado, com vitória do oposicionista Kuomintang (KMT), o Partido Nacionalista Chinês, nas principais cidades, acendeu o alerta no Partido Democrático Progressista (PDP).

Tsai, que não poderá se candidatar novamente, renunciou ao comando da legenda logo após o pleito. O posto foi passado a Lai Ching-te, seu adversário nas primárias da campanha anterior e hoje vice-presidente. As inscrições formais de pré-candidatos começam nesta segunda (13), mas Lai é considerado o nome inconteste do PDP para a disputa de 13 de janeiro.

Também ele vem buscando reduzir atritos com Pequim, por exemplo dizendo que não defenderá a independência da República da China, o nome oficial de Taiwan que ele, ao contrário de Tsai, evita mencionar. São “esforços para reconquistar o apoio dos eleitores independentes”, descreve Yan Zhensheng, professor de política comparada da Universidade Nacional de Taiwan.

O problema é que Lai construiu sua carreira política em cima do mote de que é “um operário político pela independência de Taiwan”, palavras dele mesmo. Isso gera o temor, inclusive em Washington, de que ua eventual vitória sua acabe deflagrando reação de Pequim.

Daí ele ter declarado, ao assumir como presidente do PDP, em janeiro: “Eu gostaria de reiterar que Taiwan já é uma nação independente e soberana e, portanto, não precisamos declarar sua independência”.


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O desastre eleitoral do PDP em novembro passado é creditado em parte à visita em agosto da então presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, que Tsai já teria tentado evitar à época, sem sucesso, segundo relatos na imprensa taiwanesa. A viagem foi entendida pela China como uma provocação, e levou o regime de Xi Jinping a realizar seu maior exercício militar contra a ilha, numa sequência de acontecimentos que confirmou o agravamento da disputa sino-americana.

China faz exercícios históricos ao redor de Taiwan após visita de Nancy Pelosi Taipé diz que ao menos 11 mísseis foram lançados por Pequim.

O partido ainda retomou as visitas de seus líderes à China continental, liberadas no pós-pandemia, e o convite para representantes chineses visitarem áreas agora sob sua administração. A prefeitura de Taipé, agora de volta ao Kuomintang com Chiang Wan-an, conseguiu autorização do governo Tsai e recebeu três semanas atrás uma delegação de Xangai. Chiang supostamente é bisneto de Chiang Kai-shek, que governou a China continental e depois Taiwan.

Por outro lado, o KMT tratou de lançar pontes para os EUA, reabrindo em meados do ano passado um escritório de representação do partido em Washington. O objetivo é se contrapor à acusação governista de ser “pró-China”, declarou na época o presidente da legenda, Eric Chu.


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Taiwan, a ilha que é independente, mas a China considera uma província rebelde Região está no centro de novo conflito entre Pequim e Washington envolvendo visita de Nancy Pelosi.

Outros têm se apresentado, alargando semana a semana a competição no partido, o que tem levado a pedidos públicos de unidade em torno de Hou –o próprio Chu o elogiou recentemente. “O KMT se saiu bem nas eleições locais, mas enfrenta a perspectiva de não apresentar um processo de nomeação aceitável para todos os possíveis candidatos”, afirma o professor Yan.

Sem confirmação dos principais nomes na disputa, as pesquisas de opinião se concentram nos partidos, com os dois maiores virtualmente empatados em apoio dos eleitores: 27,1% para o KMT, 26,9% para o PDP, segundo levantamento da Fundação de Opinião Pública de Taiwan divulgado há duas semanas.
Eles vêm trocando de posição, mês a mês, desde o fim do ano passado. A terceira legenda, Partido do Povo de Taiwan (PPT), marcou 12,3% na pesquisa mais recente.

O instituto arriscou uma pergunta restrita aos nomes de Lai pelo PDP e de Hou pelo KMT, sem terceiro candidato. O resultado foi de 33% para o pré-candidato governista e 47% para o oposicionista.


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O confronto fica um pouco mais equilibrado quando entra o nome de Ko Wen-je, do PPT –que, antes simpático à China, agora vem tentando se viabilizar como candidato mais próximo dos EUA.

Nesta semana, uma votação fora de época, restrita a Nantou, foi vencida pelo PDP por uma diferença de 2.000 votos, num total de 198 mil eleitores. O resultado foi questionado ao menos pela mídia próxima ao KMT, que detinha o poder local havia duas décadas.

De sua parte, Tsai e outros saudaram o resultado como o início de uma arrancada governista para a eleição presidencial.


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O risco de polarização descontrolada e questionamento das apurações em janeiro próximo, como visto recentemente pelo mundo, é refutado por Yeh-lih Wang, também professor na Universidade Nacional de Taiwan.


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Ele argumenta que, “como Taiwan adota um sistema em que o primeiro colocado vence, não ocorrem os problemas dos EUA, com Colégio Eleitoral, e do Brasil, com segundo turno”.

Há outra questão, lançada por um general americano em relatório vazado há dois meses.

Mike Minihan, chefe do Comando de Mobilidade Aérea dos EUA, afirmou que “as eleições de Taiwan são em 2024 e vão oferecer a Xi uma razão” para ocupar a ilha, já que Washington estaria “distraída” com sua própria corrida eleitoral, no final do ano.

Nesta semana, o chanceler taiwanês e ex-secretário-geral do PDP Joseph Wu comentou as duas sombras que se estendem sobre o pleito de janeiro.

“Taiwan se orgulha da democracia e não tem medo de uma competição política feroz no processo eleitoral. Mas a China faz tudo o que pode para manipular ou influenciar o pleito, e devemos estar vigilantes e impedir de forma estrita que use nossa eleição para causar problemas.”

“Quanto aos Estados Unidos”, disse, segundo declarações distribuídas pelo ministério, “o apoio a Taiwan pelos dois partidos garante que, independentemente de qual deles esteja no poder após as eleições americanas, serão implementadas políticas amigáveis”.

“A democracia dos EUA é madura e sólida, e não haverá vácuo de poder na transição”, projetou.
Mais recentemente, também a economia surgiu como ponto de divergência entre as duas principais forças políticas, com a disputa entre EUA e China como pano de fundo.

Pressionada pelos governos americano e taiwanês, a gigante TSMC iniciou investimentos para erguer duas fábricas no estado do Arizona, onde produzirá chips que concorrerão com aqueles que ela mesma produz em Taiwan.

O tema foi abraçado pelo KMT, que faz questão de lembrar que foram governos do partido que investiram na empresa e a tornaram uma campeã nacional.

O próprio PDP, ao menos na imprensa mais próxima, passou a questionar os problemas enfrentados pelos engenheiros e outros taiwaneses que foram para a TSMC nos EUA, trabalhando mais e ganhando menos, assim como a disparidade de custo das operações em Taiwan e nos EUA.

Paralelamente, a projeção de crescimento da ilha caiu para este ano. A queda é resultado da redução das exportações pelo sexto mês seguido, em fevereiro, em meio aos vetos americanos para venda de tecnologia à China e aos cortes de investimento de Pequim em Taiwan.



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