Território yanomami lidera ranking de pistas de pouso na Amazônia, aponta Mapbiomas

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Na TI Munduruku, a relação de proximidade com a mineração ilegal aumenta: 80% das estruturas estão a 5 km ou menos de distância de algum garimpo

Jéssica Maes
São Paulo, SP

O território yanomami, em Roraima, é cortado por 75 pistas de pouso, o maior número entre as terras indígenas (TIs) da Amazônia. O dado faz parte de um levantamento feito pelo Mapbiomas, que apontou que um terço delas (33,7%) está a 5 km ou menos de algum garimpo.

No ranking das TIs com mais pistas de pouso, a Raposa Serra do Sol, também em Roraima, ficou em segundo lugar, com 58, seguida de Kayapó (26), Munduruku (21), ambas no Pará, e o Parque do Xingu (21), no Mato Grosso.

Na TI Munduruku, a relação de proximidade com a mineração ilegal aumenta: 80% das estruturas estão a 5 km ou menos de distância de algum garimpo.

O levantamento foi realizado com base na análise de dados de satélite de alta resolução.

Ao todo, o MapBiomas identificou 2.869 pistas na Amazônia, sem distinção entre autorizadas ou não autorizadas. O número, no entanto, é mais do que o dobro das que constam nos registros da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Deste total, 28% (804 pistas) estão dentro de alguma área protegida: 320 ficam em terras indígenas e 498 no interior de unidades de conservação.

O geólogo Cesar Diniz, coordenador técnico do mapeamento da mineração no MapBiomas, afirma que a correlação destes números com o avanço do garimpo na região é inequívoca. “Das 5 TIs que mais têm pistas de pouso, 3 são as que também têm mais área garimpada: Kayapó, Munduruku e Yanomami.”


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Outro estudo do Mapbiomas aponta que, até 2021, no território kayapó 11.542 hectares foram tomados pelo garimpo. Na terra munduruku, esse número chega a 4.743 hectares e, na yanomami, a 1.556 hectares.

No caso das Unidades de Conservação, o maior número de pistas de pouso está na APA do Tapajós (156 pistas), seguida pela Flona do Amaná (53), a APA Triunfo do Xingu (47) e a Floresta Estadual do Paru (30).

Diniz explica que, historicamente, pistas eram instaladas em áreas de floresta protegidas para facilitar a chegada de socorro e serviços de saúde às comunidades que vivem nessas regiões, mas que a natureza dessa infraestrutura mudou.

“É razoável que algumas pistas existam dentro de TIs e UCs. O que não é razoável é que uma quantia tão grande delas esteja perto de garimpos. Fica claro que o objetivo delas deixa de ser social e passa a ser para servir ao garimpo ilegal”, diz.


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Os estados amazônicos líderes no ranking de pistas de pouso são Mato Grosso, com 1.062 pistas, Pará, com 883, e Roraima, com 218. O Pará também abriga as quatro cidades com mais pistas: Itaituba (255), São Félix Do Xingu (86), Altamira (83) e Jacareacanga (53).

“Os municípios com maior número de pistas de pouso –não coincidentemente– também têm uma relação histórica com o garimpo”, aponta o pesquisador.

Como essas atividades são instaladas em regiões de difícil acesso terrestre ou fluvial, o transporte aéreo é muito importante para a logística. Ao mesmo tempo, abrir uma pista de pouso no meio da floresta não é uma tarefa fácil ou barata.

“Você não faz uma pista de pouso se o seu interesse é ir embora daquela região em três dias. Essa infraestrutura indica uma vontade de continuar fazendo viagens constantes naquela região”, ressalta Diniz. “Localizar essas pistas é um instrumento importante para o estrangulamento do garimpo já que é por elas que entram os equipamentos para operar essa atividade e é por elas que a produção sai dali.”


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