Com a faca nos dentes

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Grupo brasiliense ligado ao PSOL divulgou nota avisando que aqueles que esperam uma reconciliação e o fim da polarização no Brasil com o novo governo estão enganados.

“A polarização vai continuar. Não por uma atitude vingativa e revanchista da esquerda. Mas porque a direita fascista vai continuar atacando a democracia e a vida civilizada. Do lado deles não vai ter perdão. Do nosso lado, também não pode ter”.

A nota distingue, porém, entre dois perfis diferentes de adversários, que votaram em Bolsonaro.

Há, de um lado, o bolsonarista raiz, o militante, o que usa o perfil nas redes sociais para fazer propaganda, o que faz questão de usar aquela toalha ridícula na sacada da casa, o que foi ativo na campanha de Bolsonaro, o que bloqueou estradas contra o resultado das eleições. Esse aí não tem cura. Não é adversário, é inimigo”.

De outro lado há os que votaram em Bolsonaro “em função do assédio eleitoral e da compra de votos. Outras se enganaram pela máquina de Fake News muito bem financiada por empresários e pelo governo. Outras foram influenciadas por falsas lideranças religiosas. Temos que ser compreensivos e entender os motivos dessas pessoas”.

Em outras palavras, o grupo de defensores do novo governo acredita que os adversários são ou bolsonaristas-raiz, inimigos, ou os que votaram iludidos.

Não admitem a hipótese de que alguém tenha deixado de votar em Lula porque preferem ideias diferentes das que são defendidas pelos partidos que o apoiam.

Fazer contas

À parte a óbvia arrogância contida nessa tese, os militantes não estão levando em conta estatísticas óbvias, que foram escancaradas nas pesquisas.

O melhor pode ser dado pelos números mostrados no dia 25 de outubro, cinco dias antes do segundo turno, pela Paraná Pesquisas. Nessa pesquisa, 47,3% dos entrevistados diziam que não votariam em Lula de jeito nenhum, enquanto 48,8% rejeitavam Bolsonaro da mesma forma.

No mesmo dia, pesquisa da Futuro Inteligência apontava que 45% dos entrevistados responderam que tinham medo de Bolsonaro ficar na presidência. Enquanto isso, 44,7% apontaram igual preocupação com a volta de Lula à chefia do Executivo.

Mais do que isso, mostrava que, para 48% dos eleitores de Bolsonaro, sua maior motivação era impedir que Lula voltasse ao poder, enquanto 41% dos eleitores de Lula só votavam nele para que Bolsonaro não permanecesse.

Visibilidade

O que esses dados mostram é inédito na história das eleições do País. Em primeiro lugar, nada menos do que 89,7% dos que votaram tinham medo. Medo de um, medo de outro, não importa.

Não pode ser um clima saudável, seja quem for o vencedor. Além disso, revela que quase a metade dos eleitores, um pouco menos no caso de Lula e mais no caso de Bolsonaro, não votava porque queria um candidato, mas porque não queria o outro.

Resultado da polarização que se abateu sobre o Brasil, impedindo que outros candidatos se viabilizassem para o segundo turno. Em nenhuma das eleições anteriores isso ocorreu, nem mesmo nas duas ganhas por Lula.

As pesquisas mostram, portanto, que não se pode governar com os olhos cheios de sangue, ou ignorando que não se conta com o apoio da maioria, nem mesmo com o apoio integral de todos os que votaram na chapa vencedora.

Sim, um mandato foi conquistado. Só que isso não significa sequer a concordância dos eleitores com as propostas dessa chapa. Na verdade, é só olhar para os cálculos. Quem votou na chapa vitoriosa por convicção, ou seja, os convertidos, corresponde a apenas uns 30% do total, ou seja, o teto histórico do PT.

O post Com a faca nos dentes apareceu primeiro em Jornal de Brasília.



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