Dimas Covas diz que não deixou cargo por investigação

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Além de evitar acúmulo de cargos, o objetivo da troca seria poupar tanto o instituto quanto a fundação de mudanças bruscas em sua gestão

Mônica Bergamo
São Paulo, SP

O médico Dimas Covas diz que deixou a direção do Instituto Butantan, vinculado ao Governo de São Paulo, para que pudesse assumir o comando da entidade privada que atua como braço operacional e administrativo da instituição, a Fundação Butantan.

Além de evitar acúmulo de cargos, o objetivo da troca seria poupar tanto o instituto quanto a fundação de mudanças bruscas em sua gestão sob o governo eleito de Tarcísio de Freitas (Republicanos), diz ele. Segundo Dimas, o diretor-executivo e conselheiros eleitos cumprem mandatos de quatro anos.

“O Butantan é totalmente dependente da fundação, e a fundação não pode sofrer descontinuidade”, afirma o médico, que cita a produção de vacinas como exemplo de projeto que poderia sofrer alterações importantes no novo governo. “O Butantan precisa preservar os avanços que teve”, diz ainda.

O médico nega que tenha deixado a direção do Instituto Butantan após obras e contratos sem licitação da Fundação Butantan serem questionados pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado), como revelado pela Folha de S.Paulo.

Por presidir o instituto estadual, Dimas também figurava como presidente do conselho curador da fundação privada, sem poder de gestão no dia a dia. A ideia, afirma, é que a partir de agora ele se dedique exclusivamente à fundação e assuma a diretoria-executiva da entidade, hoje encabeçada pelo médico Rui Curi.

Dimas Covas afirma à coluna que deixou o Instituto Butantan em 18 de outubro deste ano para assumir o posto de Curi, que teria pedido para sair por motivos pessoais. E contesta a informação publicada pela Folha de S.Paulo de que pediu demissão na quarta (30) após se reunir com o governador Rodrigo Garcia (PSDB).


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“A minha exoneração do instituto ocorreu documentalmente no dia 11 de novembro. No dia 18 de outubro eu pedi afastamento. [Do contrário] eu não poderia sequer ter o meu nome considerado pela fundação”, diz.

Ele também nega que tenha se reunido com o chefe do Executivo estadual recentemente. “Conversei com o governador antes do primeiro turno [das eleições]. Depois do primeiro turno, nunca mais conversei com ele. Eu não estive no Palácio [dos Bandeirantes], não tive conversa nenhuma, não tem atrito nenhum com o governador”, afirma.

“É uma reportagem muito negativa e que atinge a minha pessoa, e isso é inaceitável. Primeiro que é mentiroso, não é baseado na realidade”, segue. “Eu sinto muito que a Folha de S.Paulo tenha cometido um erro tão grosseiro a esse ponto.”
Questionado pela coluna, o médico contemporiza os apontamentos feitos pelo tribunal de contas paulista sobre possíveis irregularidades em torno de contratos selados pela Fundação Butantan.

“O TCE pediu informações para fazer o seu relatório atual anual, o que é absolutamente normal. O TCE pede informações sobre todos os contratos. E ainda está na fase de instrução. As perguntas que o TCE fez ainda estão sendo respondidas”, afirma Dimas.


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Como revelado pela Folha de S.Paulo, o tribunal investiga possíveis irregularidades em contratos sem licitação que somam R$ 161 milhões feitos pela Fundação Butantan com uma empresa fornecedora de um software. Entre outras questões, a análise dos técnicos do órgão aponta riscos de superfaturamento no processo.

Dimas afirma que o veto ao acúmulo das funções de presidente do Instituto Butantan e de diretor-executivo da Fundação Butantan foi determinante para sua saída. A prática, segundo o médico, está desautorizada em estatuto.

Ele diz que sua versão é corroborada pelo secretário de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde de São Paulo, David Uip, que aceitou seu pedido de demissão.

“O Dimas pediu demissão por motivos pessoais. Nunca concordei que o presidente ou superintendente da Fundação fosse também o diretor do instituto. O Instituto tem a fundação como apoio, e não acho que o instituto de apoio pode ser maior que a instituição mãe”, disse Uip à Folha de S.Paulo.


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“Isso foi discutido com o doutor David e foi feito tudo em comum acordo. Exatamente por ele não concordar que houvesse esse acúmulo é que foi tomada as medidas dessa forma”, afirma Dimas.

À Folha de S.Paulo, ele ainda descarta qualquer favorecimento à entidade privada em detrimento da instituição pública.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, a Fundação Butantan foi turbinada durante a sua gestão. Quando Dimas assumiu, em fevereiro de 2017, a entidade tinha 1.327 empregados, contra 663 servidores do instituto. Cinco anos depois, são 2.970 empregados na fundação contra 461 no instituto. Os dados são de fevereiro de 2022, os mais recentes disponíveis.


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“Funcionários do instituto são contratados por concurso público. Quem abre concurso público é o Governo do estado de São Paulo, e o Governo do estado de São Paulo não tem aberto concurso para pesquisadores há muito tempo”, afirma Dimas Covas.


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“Uma coisa é a fundação, que é uma fundação privada, e a outra é o Instituto Butantan, que é um instituto público. A fundação contrata os seus funcionários pela CLT. Não são funcionários públicos”, segue.

Dimas Covas afirma que uma mudança inesperada na gestão da Fundação Butantan diante da troca de governo poderia trazer “prejuízo para o projeto”.

“O governo, obviamente, pode indicar um diretor para o instituto diferente das pessoas que estão aqui. O importante é que, nesse momento, o projeto não poderia sofrer descontinuidade”, afirma.

“Hoje o Butantan é o décimo maior produtor de vacinas do mundo, isso se deu graças à minha gestão, e é uma coisa que não pode sofrer reversão. O Butantan tem que ser considerado, inclusive, como um projeto de Estado, não um projeto de governo.”



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