Império do sofisma

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Um exemplo pode ser dado pela insistência em afirmar que despesas sociais “não são gasto, mas investimento”

Uma boa régua para se medir as dificuldades econômicas do governo federal é examinar a frequência com que o presidente Lula recorre a sofismas para defender medidas que deseja tomar. Um exemplo pode ser dado pela insistência em afirmar que despesas sociais “não são gasto, mas investimento”.

Não apenas os manuais de economia, mas o senso comum indica que gasto é todo dispêndio financeiro, todo e qualquer dinheiro que sai do caixa. O que caracteriza a palavra investimento é o fato de produzir retorno, mas isso não o torna menos um gasto. O oposto de investimento não é gasto, mas desperdício, que seria gasto sem retorno.

O auge do sofisma, porém, foi o empregado por Lula para combater a autonomia do Banco Central, indispensável para combater a inflação. Para defender sua tese, o presidente disse que, mesmo com a autonomia, o Brasil vive inflação alta e juros estratosféricos. Sim, hoje o País tem inflação superior a 5,5% e a taxa básica de juros está a 13,75%.

Mas a questão correta não é essa, e sim as alturas onde estaria a inflação caso o Banco Central, enfim autônomo, não tivesse jogado duro com os juros. Só para lembrar, quando Lula assumiu seu primeiro mandato, a inflação estava alta e sua primeira providência foi elevar o juro básico para 26,5%, valor em que permaneceu durante os primeiros seis meses de governo.

A sucessora Dilma deixou de herança juro básico de 13,25% e inflação de 10,67%, muito superior à atual. O curioso é que, ao criticar a autonomia do Banco Central, Lula fez o sofisma mais bravo, ao afirmar: “Eu duvido que esse presidente do Banco Central seja mais independente do que foi o Meirelles”, numa referência ao presidente do Banco Central que nomeou ao assumir o governo.

Traduzindo: quando ele, Lula, praticou a independência, mesmo sem ser forçado a isso, estava certo. O problema, portanto, não está na autonomia, mas no desenho dos poderes dados ao partido que chega ao poder.

Mas autonomia veio para ficar

Apesar de toda essa controvérsia, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, trabalhou nesta quinta-feira, 19, como bombeiro. Publicou comentários no Twitter reconhecendo a autonomia do Banco Central, prevista em lei, e negou que o governo Lula tenha planos de propor mudanças ao Congresso.


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Só para lembrar, a origem da lei complementar da autonomia é do Congresso, em projeto apresentado pelo senador tucano Plínio Valério, do Amazonas. Padilha ressaltou que há posição de governo respeitosa com o BC autônomo.

O ministro entrou em campo por conta das declarações do presidente Lula contra a independência. Padilha ressaltou que, de 2003 a 2010, o presidente deu plena autonomia a Henrique Meirelles e que não mudará sua postura agora que há previsão de autonomia na lei.

O ministro publicou que não há planos de propor ao Congresso mudanças em relação ao Banco Central. O governo Lula, segundo Padilha, sabe que a política monetária e o papel de análise da macroeconomia do Banco Central são de extrema importância e, por isso, a convivência respeitosa entre as instituições vai continuar.


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