Por que votamos em quem votamos?

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O fato é que tivemos eleições, e mais uma vez nenhum dos candidatos optou pela ciência da psicologia em suas campanhas ou ações, e sim pelo acaso do pertencimento

Independentemente de sua preferência política partidária, a ideia de nosso debate de hoje é procurar entender o motivo das pessoas votarem em quem votam. Mas não me refiro aqui àqueles votantes conscientes, que buscam informações separando dados e fatos a fim de poderem ter a melhor escolha. Estou falando da grande parte de nossa população, que vota de acordo com a maré, como grande parte de meus alunos que fizeram suas escolhas mas não foram capazes de justificá-las com base em fatos por eles mesmos pesquisados, analisados e compreendidos.

Aliás, sempre procuro em minhas aulas trazer a ciência como pano de fundo, lembrando que, na medida do possível, devemos sempre ter nossa tese, estudar as antíteses para depois criarmos uma síntese mais robusta e segura acerca dos fatos estudados.

Quando falamos neste voto conduzido, nos referimos a algo do desconhecido, pelo menos para o votante, que busca em outro eleitor próximo, seja ele um parente, amigo ou figura de autoridade, uma validação de seu comportamento, já que não tem capacidade cognitiva para justificar sua própria escolha.

Assim, o caos que constitui o desconhecido é por ele tornado previsível, transformado em um comportamento econsequentemente modo de representação (pelo voto) adaptativo.

Como somos seres sociais, o processo de exploração que deveria ser comandado pela novidade deixa de produzir comportamentos e estratégias de classificação que levariam o sujeito votante a buscar suas próprias informações a respeito de em quem votar. Contudo, como abordado, existimos em um ambiente social complexo, caracterizado pela constante troca de informações relativas aos meios e fins de adaptação apropriada, que nos faz seguir ou calar frente ao desconforto causado pela diferença.

A capacidade humana de comportamento autorregulatório é um fenômeno além de nossa simples compreensão, em especial pela nossa capacidade de comunicação verbal e não verbal. Assim, aprendemos a aprender para sobreviver em contextos complexos e desafiadores, como em períodos de tanta polarização política e desinformação maciça da realidade, por exemplo.

Sabe-se que conseguimos aprender mediante discussões e leituras, absorvemos informações por meio dos mais letrados ou mesmo através da passagem de informação pelas gerações e pelo curso natural da vida, ou ainda, pelas pesquisas baseadas em fatos reais e não nas suposições. Temos a nossa disposição atualmente uma série de sistemas e devices que armazenam toda nossa história recente, nos impedindo de “mentir” ou mesmo “omitir”.


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Entretanto, o que muitos têm chamado nas redes sociais de alienação, é, na verdade, um comportamento repetitivo. Reproduzimos as atitudes daqueles com os quais temos contato direta ou indiretamente, armazenando em nossa mente suas palavras, atos e ideologias, mediados pela narrativa que nos parece mais plausível no momento.

Como não conseguimos explicar aquilo que não entendemos ou que simplesmente não conseguimos descrever de forma explicita e direta, partimos para uma adaptação social copiando e imitando aqueles que nos rodeiam. Caso contrário, estaríamos inseridos nos conflitos que permearam a ultima eleição, segregando e sendo segregado por aqueles com os quais não concordamos.

Os psicólogos sabem muito bem que os padrões de adaptação comportamental e representacional são gerados no decorrer de uma exploração ativa de uma nova situação e/ou no contato com o desconhecido, no caso, o conhecimento. Uma vez gerados, no entanto, estes padrões não são estáveis. Muito pelo contrário, eles são moldados, aprimorados a fim de se tornarem eficientes (convertidos em votos) em consequência da troca comunicativa – por isso a enorme quantidade de posts em redes sociais.

Padrões de adaptação comportamental e esquemas de classificação ou representação são derivados da observação do outro. Assim, como agimos na presença das “coisas”, no seu contexto sempre variável e social, é o que estas “coisas” significam no momento e não o que realmente significam.


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Ou seja, minha percepção da realidade pode ser afetada pela necessidade de pertencimento a um grupo ou mesmo pela tentativa de agradar uma pessoa de referencia. Logo, o que uma “coisa” é, pode ser determinada (na ausência de informações) pelo exame do observador do comportamento daqueles que se quer seguir, repetindo assim, sem julgamento e/ou aprofundamento o comportamento do coletivo a que se quer pertencer ou ser minimamente reconhecido.

Um simples exemplo de tudo o que abordei até o momento, é que se alguém do grupo de pertencimento corre de algo, é seguro para o observador presumir que existe algo perigoso e que se deve correr também, mesmo sem nenhuma informação a respeito de que se esta correndo. Assim, a ação do outro, define de fato a veracidade da suposição.

Consequentemente a observação das ações realizadas pelos membros de qualquer comunidade a que se quer pertencer ou ser reconhecido, possibilita a derivação e a classificação de valor provisório na mente do sujeito que deseja o aceite do coletivo, impedindo de certa forma a racionalização de suas ações.

O fato é que tivemos eleições, e mais uma vez nenhum dos candidatos optou pela ciência da psicologia em suas campanhas ou ações, e sim pelo acaso do pertencimento acima descrito. A consequência foi clara, em torno de 45%, ou mais, da população não está satisfeita hoje, ao passo que os demais 51% ou mais, estão comemorando a vitória de seu candidato. E destes 51%, ou mais, grande parte comemora a vitória como se fosse a sua própria vitória, em uma clara necessidade de validação de seus pressupostos ideológicos, sem qualquer noção do motivo pelo qual realmente escolheu em quem votar. Como dizem os americanos, que Deus proteja nossa nação.


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