Professores da rede pública do DF ganham prêmio de inovação

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A metodologia inovadora do projeto Da Leitura à escrita criativa e a gamificação une o incentivo à leitura com a tecnologia

“Foi inacreditável. Ver um projeto de literatura ficar em primeiro lugar é uma surpresa. Estou muito feliz com isso e com a valorização e reconhecimento do nosso trabalho”, comenta a professora Patrícia da Costa Sousa, da Escola Classe (EC) 203 do Recanto das Emas, que conquistou o primeiro lugar com o projeto Da Leitura à escrita criativa e a gamificação no Prêmio Professor Inovador. Junto com ela, em terceiro lugar, ficou Francenylson Luiz Dantas dos Santos, também da rede pública de educação. Ele atua na Coordenação Regional de Ensino do Recanto da Emas e, em 2022, desenvolveu o projeto Robótica para vida – Aluno Maker Digital com 100 estudantes da região.

“Para mim foi a reafirmação de que estamos no caminho certo”, diz Francenylson. “Ainda mais sabendo que a educação, que é um segmento que a sociedade não dá o correto valor no quesito de ser fomentado os investimentos. Conseguir esse destaque na escola pública foi uma afirmação”, continuou o professor.

Tecnologia na literatura

A metodologia inovadora do projeto Da Leitura à escrita criativa e a gamificação une o incentivo à leitura com a tecnologia. Uma das ações do projeto foi o desenvolvimento de um escape room, jogo com pistas e enigmas baseados nos contos lidos em sala. A narrativa foi elaborada pelos alunos e, a partir das ideias deles, a docente montou as pistas. “A tecnologia está aí, não podemos fechar os olhos para isso. Com a pandemia a gente teve uma aceleração desse processo dentro da educação. É um despertar, independentemente da área, e é atrativo para o nosso aluno”, pontuou Patrícia.

O objetivo, como ela conta, é desenvolver o letramento literário, de modo a promover a criatividade, a criticidade e o protagonismo estudantil. “Quando eu pensei no projeto eu pensei, primeiramente, no meu aluno. Tentei atrair a atração dele para o texto literário. Quando a gente ensina literatura, focamos esse ensino no aspecto formal ‘o que você entendeu do texto?’, e eu mudei essa perspectiva”, afirma a docente. “O aluno tinha essa liberdade de questionar o texto, dizer o que gostou e o que não gostou. Tudo que me era trazido eu acolhia”, enfatizou.

Os estudantes também fizeram a reescrita criativa de três contos de Edgar Allan Poe. A coletânea dessas produções textuais está no livro Ecos de uma noite sombria: uma releitura de Poe. Ao todo, 28 alunos do sexto ano do ensino fundamental ao terceiro ano do ensino médio participaram do projeto, iniciado em 2021. “Começamos uma conversa literária. Para você ter liberdade para falar, é necessário um ambiente acolhedor. Foi um processo muito natural e tranquilo. Eu e os alunos ficamos muito felizes com o resultado, foi um projeto muito gostoso”, ponderou Patrícia.

O projeto da professora está vinculado a sua dissertação de mestrado. “Quando eu entrei na sala de altas habilidades, vi um público totalmente diferente. Não tem como eu dar uma aula tradicional para eles. Todo o nosso repertório de profissão cai por terra”, disse. Ela precisou, dessa forma, pensar em outras atividades para atender melhor os seus alunos. Ela começou com a escrita criativa e, quando chegou no mestrado, teve contato com a questão da leitura subjetiva, que é, justamente, acolher os gostos dos alunos com relação à leitura. “Associei essas duas coisas”, explica. “Quando isso se somou, foi algo muito potente na sala de aula”, conta, orgulhosa.

Ela compartilha ainda que, ao longo do processo, percebeu o aumento da autoconfiança e do empoderamento dos alunos. “Isso não tem preço”, comemora. “O que ganhamos em termos de formação nesse processo é imensurável”.


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Robótica no dia a dia

Por meio do projeto Robótica para vida – Aluno Maker Digital, os estudantes desenvolvem projetos de robótica e, assim, colocam em prática os conteúdos aprendidos em sala de aula. Usam a matemática e a aprendizagem em ângulos, graus e unidades de medida para cortar e montar as peças dos robôs; a lógica e unidades de tempo para fazer os movimentos dos mecanismos e a lateralidade para apertar e folgar os parafusos. "A tecnologia é um caminho que não tem volta. Quando a gente trabalha a tecnologia, estamos inserindo o nosso aluno na realidade da sociedade, na realidade robotizada", defende Francenylson. 

O projeto foi idealizado em 2018 e já passou por cinco escolas da região. Agora, conta com apoio da Coordenação Regional de Ensino do Recanto da Emas e da Unidade Regional de Educação Básica (Unieb). "Fizemos isso mais preocupados com a questão do conceito que a gente tem de 'nativos digitais'. Precisamos ter muito cuidado com isso, pois nativo digital não significa uma geração criativa. Eles são apenas usuários de tecnologia e não criadores", esclareceu. "Aqui,  trabalhamos a criatividade", acrescentou.  A iniciativa continuará em 2023, e a CRE do Recanto pretende inaugurar um polo do projeto no Centro de Ensino Fundamental 405.

“A nossa proposta foi trabalhar as tendências tecnológicas com os alunos do ensino fundamental. O projeto foi baseado numa pesquisa que fizemos no Recanto, para saber qual o perfil tecnológico dos nossos alunos”, explicou o professor. Ele conta que, com base nessa pesquisa, foram desenvolvidas algumas propostas de desenvolver humanóides, braços robóticos e alguns protótipos de robótica funcionais. “A ideia é trabalhar a robótica tendo uma finalidade na vida das pessoas. É lúdico mas é sério. Fizemos, por exemplo, uma lixeira automática, que abre e fecha sozinha e uma geladeira que te dá a informação nutricional do que você pega”, compartilhou.

Conforme salienta o professor, a pesquisa mostrou que os alunos tem uma resistência quando se fala em aprender. “Qualquer questionamento que você faz com o termo ‘estudar’ o aluno tá fora. Mas quando usamos o termo ‘criar’, ele tá dentro”, ponderou. Ele conta ainda que os alunos são muito seguros com relação à tecnologia “40% dos alunos disseram que são excelentes com tecnologia, e 30% que são muito bons. Apenas 30% disseram que eram ‘mais ou menos’”, diz.

O prêmio

O Prêmio Professor Inovador é promovido pelo Instituto Eda Coutinho em parceria com a Cátedra Unesco – Educação, Meio Ambiente e Cidadania. A iniciativa foi lançada em outubro de 2022, com o objetivo de incentivar a criatividade na sala de aula. Professores da educação básica do DF foram convidados a apresentar projetos, práticas, ações ou ideias inovadoras e de sucesso em sua trajetória na sala de aula. Após uma seleção e análise do material, uma comissão formada por gestores educacionais com experiência em inovação selecionou três vencedores.

Ao primeiro lugar, coube um prêmio de R$ 5 mil. Já a segunda colocação garantiu ao ganhador R$ 3 mil, enquanto o terceiro selecionado levou R$ 2 mil. Os demais participantes receberam um certificado.


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